terça-feira, setembro 26, 2006

Descoberta

Os jatos do chuveiro tamborilavam insistentemente em sua nuca e escorriam desordenadamente pelo seu corpo. Sentia na boca o gosto da água quente, e suas narinas captavam o cheiro de vapor enquanto sua mente vagava por suas descobertas. Havia tempos que conhecia suas verdades incontidas e seus medos inconfessáveis, mas dessa vez a força das doces lembranças fazia seu coração ser atravessado pelas agulhas geladas de suas certezas.

Descobriu que o sorriso dela era mais do que a simples felicidade. Aquele sorriso era seu bálsamo, era o ungüento de sua alma, era a pomada que cicatrizava seu coração. Sabia que aquele sorriso tudo podia e faria de tudo para que aquele brilho intenso nunca se apagasse.

Viu conformado que seu reflexo no espelho não era mais seu. Havia algo no brilho do seu olhar que não estava ali tempos atrás. Aquele brilho, ele tinha plena convicção, era sua paixão incondicional por aquela mulher que trasnformara sua vida. Poderia amá-la eternamente sem nunca mais vê-la, porque sabia que ela já estava escondida sob sua pele.

Mas seguia mentalmente os caminhos tortuosos que a água traçava em seu corpo e descobriu que seu corpo precisava do corpo dela. Era como se dedos invisíveis tomassem conta de suas sensações. Sabia, mais do que ninguém, que havia ultrapassado a barreira do interesse sexual, da afeição amorosa, da amizade companheira. Sentia uma necessidade física e uma urgência irracional de estar com ela. Queria tomá-la, possuí-la, como se tal ato abrandasse seu espírito atormentado.

Mesmo se tivesse à sua disposição mil mulheres, seria para sempre aquele corpo de pele clara e formas perfeitas que desejaria. Tivesse ela mil homens à sua disposição, sabia que os signos marcados em seu corpo eram a prova mais que cabal de uma devoção eterna. Suas barreiras caíram e ele se sentiu vulnerável, pois sabia que ela tinha pleno domínio de suas vontades, que eram cada vez maiores e mais intensas. Sabia que seu corpo já não lhe pertencia mais, como num acordo tácito com seus desejos.

Descobriu-se, assim como todos os dias de sua vida haveriam de ser, que estava irremediavelmente apaixonado por aquela menina de olhos doces e vontades apimentadas. Sabia que amaria cada dia mais aquela moça de sorriso sincero e corpo diabólico. Resignou-se quando descobriu que iria se apaixonar todos os dias, um pouco mais, até os limites da loucura e da insensatez. E sorriu quando viu o sorriso dela no espelho.

Te amo, Elektra.