quarta-feira, novembro 22, 2006

O homem de areia

O homem de areia cambaleava, mortalmente ferido. Tentava se apoiar entre paredes de segurança e troncos de esperança, mas sentia que seus frágeis dedos de areia se despedaçavam um pouco mais a cada vã tentativa de se manter de pé.

Sabia que estava chorando pois sentia seu pequeno coração de areia se dissolvendo, mas ninguém via suas lágrimas de areia porque elas eram levadas pela leve brisa que soprava sem parar. Sangrou, e seu sangue de areia espalhou-se por todos os lados. Tentou gritar por socorro, mas de sua boca de areia só saíram tristes sussuros de areia fina.

Conseguiu chegar à beira de um abismo e abriu os braços, sentindo o vento cortante varrer o seu corpo. Cada pedaço de dele agora rodopiava em volta de si mesmo, formando rodamoinhos de areia e sentimentos. Em breve deixaria de existir e se tornaria parte do mundo, com os grãos de seu corpo cansado voando para bem longe, onde o homem de areia sempre quis estar.

Então alguém segurou sua mão de areia já quase totalmente desfeita e o vento parou de soprar. A heroína tomou o homem de areia nos braços e o levou para longe daquele mundo de sofrimento, cantando baixinho em seu ouvido... "Take me somewhere we can be alone... Make me somewhere I can call a home... 'Cause lately I've been losing my own..."

E nasceu nos lábios de areia do homem um esboço de sorriso...